11 de junho de 2010

Parte das Estatísticas novamente…

É dudes! Eu voltei a trabalhar para a VARIG (Vagabundos Anônimos Roubando Impostos do Governo). Isto é: vou pro Seguro Desemprego mamar um pouco do dinheiro que todos nós pagamos a este “maravilindo” governo de merda e nunca sabemos em que buraco se enfia!

É interessante a forma como o trabalhador é tratado pelas empresas no Brasil. Falo do Brasil, por que nunca tive a oportunidade de estudar as relações trabalhistas em outros países. Mas aqui é interessante a forma como somos tratados feito gado… Números… Nada além disso

No momento em que você faz 14 anos e pode tirar a sua primeira carteira de trabalho você é o ser humano mais feliz da Terra (ou não… o.o).
Na primeira jornada, você veste sua melhor roupa, isto é: se enfia naquela calça social linda, a blusa social maravilhosa que sua mãe te emprestou (porque você não tem roupas assim ainda. Pretende comprá-las e promete comprá-las com seu primeiro salário) e coloca os pés naqueles lindos sapatos sociais que você implorou milhões de vezes pra sua mãe comprar pra você só por causa da fivela magnífica que têm na ponta… E você nunca usou, guardando-os pra essa ocasião.

Mete a pasta debaixo do braço, a melhor das suas bolsas, com maquiagem pra retoques, escova de cabelo (algumas até vão no salão!) pra garantir que o vento não destrua seu trabalho…

E então poe os pés na rua e vai!

Você se sente o máximo… “Estou procurando meu primeiro emprego”, é o seu pensamento. E isso te arranca um sorrisão do rosto… Feliz… Com aquela cara de quem vai ganhar dinheiro pencas todo o mês e ter finalmente dinheiro suficiente pra ir nas baladas que nunca foi com os amigos por que seu pai nunca te deu dinheiro pra ir (ele acha isso coisas idiotas ou gastos inúteis. E você nunca entendeu como ele pode ser tão insensível!). Você pega o ônibus para o centro da cidade com os olhos cheios de estrelas, pensando em todas as roupas legais que vai poder comprar – por que agora, o dinheiro é seu. E sua mãe não vai te dizer que aquela blusa maravilhosa de R$170 é cara demais pra você. E você desce do ônibus no meio do centro da cidade achando tudo lindo: os prédios altos… A sensação de que você vai trabalhar no topo do mundo…

E então… Você começa a procurar emprego…

E seis horas depois, com seu estômago roncando horrores de fome – sim, por que você percebeu que no centro da cidade ou você ganha R$12,90 por dia de Ticket Alimentação ou vai comer um salgadinho que não te enche nem o buraco do dente e ainda te dá uma azia inacreditável pro tamanho minúsculo que tem – você começa a entender que a vida não é todas as maravilhas que pensou.

A calça maravilhosa já está amarrotada e você tem certeza que ela está tentando perfurar a sua barriga com aquele botão desgraçado do cintinho imbutido… A blusa maravilhosa? Você já está querendo arrancá-la por que descobriu que blusas sociais são irritantemente quentes… Ah… E os sapatos lindos de bico fino você já está querendo enfiar no olho do cu do infeliz que criou os saltos! E as malditas fivelas de ponta de sapato! Por que elas insistem em tentar separar os seus dedos do peito dos seus pés – o que agora é o menor dos seus problemas já que você perdeu a circulação nos dedos dos pés há cerca de 1h e meia e não os está sentindo mais…

Você olha pra pasta na sua mão… Se lembra que nessas seis horas já andou mais do que na sua vida inteirinha e deixou currículos em todos os lugares prováveis num raio de mais quilômetros do que sua empolgação te deixou precisar. Ou seja: hora de ir pra casa… Isso… Ir pra casa. Por que agora você não conseguiu absolutamente nada…

Mas no dia seguinte você se força a pular da cama… Você precisa daquela blusa magnífica de R$170 e claro… Precisa das entradas pras baladas… E o dinheiro pencas?! Esqueceu!? LEVANTA SEU BABACA!! E lá se vai você de novo pra mais um dia com pelo menos 2h de viagem de ida, 6h de caminhada incessante e mais 3h de viagem de volta. Sim… Por que na volta tem congestionamento… E você nunca consegue chegar em casa no tempo programado.

Essa rotina se repete por pelo menos uma semana…

No fim do sétimo dia você já chega em casa se derramando no sofá, soltando todo ar que tem nos pulmões… Querendo jogar a maldita bolsa pela janela. A maquiagem? Saiu do seu rosto na segunda hora de busca de emprego e você não teve SACO de parar num espelhinho pra retocar pela décima vez… Você finalmente tira a blusa social que colocou pela manhã e se pergunta por que não tacar fogo naquele instrumento de tortura de uma vez…
Quando se senta, você se lembra do por que calças assassinas nem são tão ruins assim: depois de todas as tentativas da calça de perfurar o seu baço, você resolveu ir na sexta feira de saia. Só pra variar… E agora está tentando saber onde foi parar a pele entre suas pernas. Por que de tanto andar, a meia calça vai pro lixo e suas coxas queimam mais do que se você tivesse se sentado numa maldita chapa!

E então… Os sapatos… Os malditos e apertados sapatos que você já se arrependeu de ter comprado na segunda feira… E que estão ali, no seu pé, com suas malditas fivelas from hell cintilando sobre o roxo dos seus dedinhos sem sangue.

Você tira aqueles pedaços de couro inúteis dos seus pés e sente que sem querer tirou metade da pele do seu pé junto. Sim… Você só sente depois que tira por que finalmente o sangue voltou aos seus pés e você consegue senti-los de novo… Antes não os sentisse…

A pasta de currículos está vazia. E por uma semana inteirinha você andou mais lugares do que os seus pés poderiam suportar. E até agora, tudo o que ouviu é: “Retornamos o contato caso você se encaixe no nosso perfil”.

E quer saber a verdade amigão? 98% dos contatos que você fez andando como um corno simplesmente não vão te ligar… Alguns nem olham seu currículo. O aceitam só por educação…

Mas depois de algumas tentativas (e algumas semanas por que não?) finalmente: o telefone toca.

E você nem acredita quando sua mãe te diz que você tem uma entrevista de emprego marcada!
Se veste de novo… Se emperequeta outra vez…
“Finalmente, vai valer todo o esforço” é o seu pensamento dessa vez.

E você enfrenta o coletivo lotado com a cara e a coragem pra estar lá 15 minutos antes do combinado: tempo de sobra pra refazer o cabelo e a maquiagem e colocar tudo no seu devido lugar só pra entrar na sala, fazer a prova, passar por uma psicóloga e finalmente receber um sonoro NÃO como resposta…

Own… Desculpe… Você não tem experiência para o cargo…

Ok… Você entende… Tudo bem. É só o seu primeiro emprego… Outras entrevistas virão…

E elas realmente vêm.

Depois da quarta ou quinta vez finalmente: Alguém te contrata e ai sim, você é o ser humano mais feliz da Terra!
Finalmente vai ter seu dinheiro! Vai comprar suas roupas (mesmo que agora você já não vá comprar aquela blusa de R$170, por que ela não serve para o seu trabalho)! Vai pagar suas baladas (mesmo que há semanas você não saia com seus amigos simplesmente por que nem sequer acorda no sábado e dorme o domingo inteirinho)!

Então eu vou contar a minha história: Você é contratado como analista de atendimento. (não, este não foi o meu primeiro emprego. Mas dá pra usar como exemplo, senão eu vou ficar aqui contando duzentos mil anos de história até chegar no ponto ¬¬).

É: Analista de Atendimento não Operador de Telemarketing. E por que? Por que você vai ganhar R$505 reais… E não os R$660 que são piso da categoria. E como analista de atendimento, o sindicato dos operadores de telemarketing simplesmente não mete o bedelho pra te defender e os R$155 a menos no seu salário ficam… A menos no seu salário. Ponto.

“Tudo bem”, você pensa. “Com o tempo, eu posso subir na empresa”, por que o seu contratador disse que você pode. “E posso melhorar o meu salário. E claro: R$ 505 reais são melhores do que nada!”.

Então você põe o sorriso na voz e trabalha o mês inteiro… Se mata de fazer horas extras pra empresa porque quer mostrar serviço. Foi contratado por 6h, mas trabalha 12, sem problemas. Afinal, nas suas contas, isso vai dobrar o seu salário!

Você foi informado que vai receber por quinzenas. Maravilha! De quinze em quinze dias um dinheirão na mão!

E ai, na primeira quinzena… R$202 na sua conta…

O.O “WHAT A FUCKING PORRA IS GOING ON!?”

A resposta: Seu salário foi dividido. Você recebe 40% no meio do mês e os outros 60% vêm no final da trezena

Alívio: Você acha que no fim do mês vai receber aquela pequena boladinha e ficar feliz da vida… Ai queima os R$202 em comemorações no Bob’s e McDonnalds por que você agora tem um emprego!!! (E as roupas e ingressos de balada??? Fim do mês você paga! Claro!).

Então você continua se empenhando como um filho da puta. Tira monitoria plena! Acha que vai ser o fodão do mês! E dia 30 chega… e você recebe…

FUCKING R$136!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Agora sim tem algo errado! Agora sim você vai como um animal sedento no infeliz filho da puta do inferno do RH saber que porra está acontecendo com o caralho do seu dinheiro (não se espante: não é metade dos palavrões que você xinga quando vê o contracheque ^^).

E é quando, com a cara mais deslavada do mundo, o filho de uma rapariga mal alimentada te mostra calmamente que seu salário está certo!!!

Resposta? INSS, IR, FGTS, Contribuição Sindical (Mas PORRA!!! EU NÃO SOU DO SINDICATO!!!), etc etc etc

Duzentas e sessenta e dez (erro proposital antes que me chamem de burra ¬¬) motivos pra tirarem pedacinhos do seu salário que vão reduzindo o seu montante maravilhoso à inacreditável quantia que você tem nas mãos e que não dá pra comprar nem aquela blusa que você queria no início dessa brincadeira toda.

Mesmo assim, você recebeu elogios… As pessoas agora confiam em você. E você ainda acha que pode subir na empresa… E continua se empenhando…

E durante um ano inteiro você procura se empenhar. Claro, depois de um ano você já não tira monitoria plena – Não depois de ter uma foto RIDÍCULA sua exposta no mural da empresa pelo 10 de monitoria. Não. Depois disso você se policia pra não ter 10, só pra não ser ridicularizado de novo. Depois de um ano você já não se empenha tanto – depois de não receber suas horas extras, você desiste: se foi contratado pra 6h então trabalha 6h e foda-se a hora do Brasil.

Mas ainda assim… Você olha pra empresa e vê pedaços dela em que você sabe que tem um dedo seu… Você ajudou a implantar projetos com a cara e com a coragem – por que pra sua equipe, não houve suporte… Você enfiou todo o seu empenho em criar emails padrão de resposta aos seus clientes, criou relatórios, estruturas, formas de trabalho. Se tornou especialista nos detalhes da sua empresa. Fez tudo o que devia e agora, com um ano, finalmente você pode participar do Programa de Crescimento Interno e se tornar alguma coisa na empresa.

E ai, um belo dia… Você chega com seu café da manhã debaixo do braço na sua empresa, e percebe que a sua posição de atendimento está vazia… E não há mais um computador pra que você possa trabalhar…

Você percebe que colegas seus foram simplesmente mandados embora… E setores inteiros foram desligados, com a sua supervisora dizendo a você e à sua equipe que estava tudo bem. Que nada estava acontecendo…

E ai, amigo… Depois de tudo isso… Depois de todo o seu esforço, empenho, suor e até sangue (lembra dos sapatos né?), entra na sua sala de trabalho uma pessoa do quinto dos infernos que você simplesmente nunca viu… E diz pra você que na segunda feira você vai trazer sua amada carteira de trabalho… E a partir de terça feira, você simplesmente não precisa mais voltar.

Por que a empresa contratou uma terceirizada pra fazer o seu serviço por menos dinheiro… E você se tornou dispensável

Agora acabou a graça né?
Eu também acho…
Ser tratado como número não é divertido… Não agora que você finalmente entendeu que roupas caras e baladas são gastos desnecessários e que seus pais estavam certos. E você ia investir num curso… Você finalmente podia passar no Programa de Crescimento!! Ia ficar melhor na vida!!! Finalmente você ia… Ia…

Você ia

Mas você é só um número… Um maldito número…

E ninguém se importa.
A empresa vai ficar melhor em outro lugar… Com outras pessoas…

E você é dispensável.

DISPENSÁVEL

E é por isso que eu estou aqui hoje.
Não por que eu não quisesse que essa tortura de “vamos ser mandados embora e não sabemos quando” terminasse.
Eu queria ter sido mandado embora. Claro que queria. Fim de problema: estou livre!

Mas eu acho que profissionalismo vai bem.

Eu acho que as pessoas poderiam ser tratadas com mais respeito. Acho que o mundo seria um pouco melhor se as empresas entendessem que dependem SIM de seus funcionários.

E se não os querem mais, pelo menos, que o façam da maneira certa. Comuniquem com antecedência. Dêem a chance do infeliz conseguir um outro emprego! (Porra! Se tivessem sido organizados eu estaria empregada agora!!!).

Sejam decentes: Vocês lidam com gente. Não com máquinas!

Na verdade, eu nem sei por que estou falando aqui… Acho que é mesmo só um desabafo.
Minha melhor amiga está certa: meus pensamentos são uma utopia.

O mundo não vai mudar só por que eu acho que ele ficaria mais perfeito se o ser fosse mais humano.

Mas isso não me impede de achar…

 

Emoções à parte, eu vou calçar os meus sapatos sociais… Por que eu tenho que procurar um emprego.

 

End of transmission.

2 comentários:

Yuri "Raitane" disse...

É Lis sua amiga estava certa. Mas esse tipo de atitude jamais mudará... Sempre foi assim e sempre será. É claro que, pela sociedade gananciosa ser assim, você não precisa ser. Pessoas que ainda se apegam a ser sensiveis, humanas, se destacam dentre quem reconhece essas características, e eu reconheço isso em você ^^... Mas para min, o pior ainda é que, a empresa que manda os funcionários embora para terciarizar, agrava ainda mais outro problema que você não citou, o "empurra empurra" de culpa, fazendo NADA ser funcional no país de tanto que isso acontece. xD... Mas, vamos levando, na merda, mas levando /o/.

Aurie Joker disse...

Como eu disse, seus pensamentos são uma utopia. Não é só porque você quer, ou porque as coisas seriam melhores assim, que é desse jeito que vão aocntecer. Pelo menos não agora. Utopias são suposições de uma realidade longíqua, então não vou me atrever a dizer que nunca vai se realizar. Pode, quem sabe, um dia.

Você conhece bem a minha forma de pensar. Nós discutimos por causa disso, justamente porque você não gosta dela. Eu entendo. Ninguém gosta. É cretino, canalha, arrogante, egoísta, cruel. É monstruoso. Mas num mundo onde alguns morrem de fome e os outros não choram por eles, monstruosidade se tornou algo normal. Sim, voltamos ao âmbito de "se eu não comer porque tem gente morrendo de fome" e todo o mais. Você se lembra bem, eu sei disso. Mantenho o que eu disse. Ninguém se importa e essa maldita espécie da qual me envergonho de fazer parte é simplesmente um fucking parasita no planeta. Sim, deveríamos nos importar. Mas não nos importamos. E não é só porque isso parece terrível que vai mudar que somos sim, todos mosntros. Não é agradável. E eu entendo que minha forma de pensar incomode tanto. O ser humano se acha bom demais para se igualar a um monstro. Pena que pensar nas misérias que fazemos pelos outros por puro desencargo de consciência funcionem. Ajuda as pessoas a dormirem melhor a noite.

Mas não deveria.

Salvo poucos seres humanos reais, eu reduzo todo o restante dessa espécie a meros homo sapiens.

Porque atitudes mudam. Mentiras mudam.

Pessoas não.