4 de janeiro de 2011

Sobre preconceito, filmes e consciência


A que ponto a nossa raça é capaz de chegar?
Essa semana eu assisti um filme. Se não me engano, “Códigos de Guerra” com o Nicholas Cage. Sério: filmes com esse ator SEMPRE são bons. É quase unânime.
Mas não é do ator ou da atuação dele que eu estou aqui pra falar. Esse filme trouxe uma cena que me voltou na cabeça hoje, enquanto eu lia um blog perdido pela Internet.
Nela, dois soldados conversavam a respeito da guerra que estavam vivendo. Estados Unidos contra Japão. Todo exército americano dependendo de um código construído com base na linguagem indígena dos Navajo – índios que, alguns punhados de décadas antes, os mesmos americanos caçavam como animais.
Hoje, vendo o “humor negro” de um desses blogs que satirizam a visão evangélica extremista do planeta, eu pensei nessa cena.
Me lembrei que, apesar daquele blog estar fazendo um humor ridículo de péssimo gosto, realmente existem pessoas que pensam daquele jeito... E isso não é engraçado, pessoas. Por mais que pareça engraçado, não tem graça ver um grupo de evangélicos ostentando a bandeira que homossexualidade é nojento, doença ou coisa do capeta, hostilizando aqueles que optaram pelo amor a entes do mesmo sexo.
Sabe, pessoas, ver esse tipo de coisa tem tanta graça quanto um grupo de homossexuais tacando ovos numa igreja católica... Ou um grupo de skinheads sendo preso depois de agredir um jovem gay no meio da avenida paulista com lâmpadas fluorescentes...
Não tem graça ouvi-los dizer que o único motivo pra agredir aquele jovem foi “ah... Mas ele é gay!”.
Certamente, pessoas, também não teve nenhuma graça o momento em que esse mesmo jovem gay olhou no espelho e viu o rosto destruído por cacos de lâmpada... Ou a dor que ele deve ter sentido... Ou o fato que poderia ter ficado cego... Ou a sensação de insegurança que ele vai ter agora todas as vezes que sair na rua.
Ou as marcas que nunca mais vão sair da face dele.
Não tem graça, pessoas. Não é piada. Não é brincadeira. Não é senso de humor.
E ai eu me lembrei daquele filme e do soldado americano dizendo ao personagem do Nicholas Cage que era estranho se sentir da maneira como ele se sentia quando via o índio Navajo fardado ao lado dele no campo de batalha. Que ele ouvira o avô dele falar de caçar Navajos como quem caça veados nos campos e hoje ele ouvia os parceiros de exército dele contarem japoneses mortos como o avô dele marcava Navajos mortos no assoalho da varanda. Que hoje eles estavam invadindo as terras japonesas como antes o avô dele invadira as terras Navajo. E que ele pensava se um dia não estariam Americanos, Navajos e Japoneses sentados na mesma mesa, tomando sakê, comendo hambúrgueres, falando em histórias antigas e planejando ataques contra o próximo povo...
E eu fico pensando o mesmo, sabe, pessoas?
Hoje eu me peguei pensando se daqui a alguns anos não vamos sentar numa igreja pra assistir ao casamento de um casal gay e ouvi-los receber a bênção de Deus como se Deus mudasse de opinião com o tempo de acordo com a opinião dos homens. Eu não estive viva pra ver a tão mal falada Maria Madalena ser “absolvida” pela igreja?
Então depois de todos estes anos Maria Madalena não era prostituta?
Minha pergunta aos evangélicos, católicos, cristãos de toda estirpe continua a mesma: Se Jesus estivesse na terra agora, será que ele aprovaria essa condenação?
Será que ele jogaria pedras ou lâmpadas fluorescentes na face dos homossexuais que encontrasse ou diria pra eles que todos vão queimar no fogo do inferno?
Ou será que vão mudar também as palavras “dEle” quando disse na Bíblia “Que atire a primeira pedra aquele que nunca teve pecados”?
Mas minha pergunta não fica só de um dos lados dessa conversa não...
E nem só nessa conversa...
Homossexuais, deficientes, negros, pardos, índios, emos... Todo mundo que sofre algum tipo de preconceito, também precisa se perguntar se realmente devolver na mesma moeda é o jeito certo de lidar com isso.
Algum de vocês, pessoas, já parou pra pensar se fazer gracinha em blogs com o pensamento extremista dos outros é um jeito legal de sentar e discutir a questão?
Já pararam pra se perguntar, pessoas, se jogar ovos em igrejas ou profanar templos é um bom jeito de dizer que estão se sentindo mal pelo preconceito que sofrem?
Alguém entre vocês, pessoas, já quis saber se xingar de volta metaleiros e rockeiros em geral num Chat público ao invés de dar uma inteligente resposta que cite as leis que lhe dão a liberdade de expressão de ser Emo é um bom jeito de responder às ofensas que você recebe?
Eu duvido...

O verdadeiro mal da humanidade não está de um lado ou de outro dessas brigas ridículas. Não é o preconceito de uns ou a não aceitação de outros... Não existem dois lados nessa moeda. É uma mesma moeda.
Um mesmo níquel sem valor.
A balança não pende pra lado nenhum simplesmente por que os dois lados estão errados!

Mas quem sabe eu não vou estar viva pra ver esses lados entenderem que não precisam se dar as mãos pra que essa disputa idiota termine...
Quem sabe eu não vou estar viva pra ver esses lados entenderem que há espaço no mundo pra todos e que o grande problema do mundo é o proselitismo idiota de todas as pessoas...

Quem sabe eu não vou estar aqui para ver cada um entender que há espaço suficiente pra seus próprios pensamentos e modos de pensar dentro da droga da sua cabeça e que ninguém precisa pensar igual a você pra que você tenha o direito de existir e/ou pra ter o direito de existir como você.

Quem sabe...


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