26 de abril de 2013

Simplicidade

Bom dia pessoas...

Tem coisas que fazem a gente parar e pensar.
Reclamamos diariamente da nossa conta bancária, de como trabalhamos pra pagar nossas contas e a comida que temos no prato. Reclamamos que não gostamos de comer isso ou aquilo, que queríamos carne ao invés de ovo, que nossos pais são um porre, nossos irmãos uns chatos, nossos filhos uns mal comportados.
Esposas irritantes, maridos insuportáveis, família intrometida.
Trabalho aborrecido, patrão mal comido, cliente agressivo, atendente mal educado.

Olhamos o tempo todo só pra dentro dos nossos jardins, reclamando como nossa grama é amarelada e seca, como nossas flores duram pouco e nossas árvores dão poucos frutos.

Enrabichamos nossos olhos para os jardins mais verdes dos ricos, sempre questionando a injustiça do mundo em como a grama deles é mais verde que a nossa com tão menos trabalho.

Mas às vezes a vida nos leva o olhar pra algum casebre no meio do caminho.
Às vezes o ônibus passa mais devagar num congestionamento e você olha pela janela ao invés de reclamar do trânsito. E seus olhos vêem crianças brincando na frente de barracos de madeira construídos com caixotes de frutas da feira de domingo que você consegue reconhecer graças ao logotipo da empresa de uvas ou pêras marcado a fogo em diversas ripas das paredes do barraco. E dentro do seu coração, bem lá no fundo, você agradece baixinho que sua casa seja feita de tijolos firmes e concreto forte.

Você olha essas crianças brincando, sujinhas da poeira da rua, magrelinhas, cabelos despenteados, pés descalços. E agradece em silêncio que seus filhos, muitas vezes sentados do seu lado nos bancos dos ônibus da vida, tenham os pés dentro de calçados, o corpo dentro de roupas confortáveis e os cabelos penteados e limpos. Você agradece por ter água pra banhá-los. Agradece a comida que o seu dinheiro conseguiu comprar.

Você vê o sorriso no rosto delas, gritando e correndo, felizes. E você para pra se perguntar: Por que eu não sou feliz se tenho tão mais do que elas? Por que eu reclamo da minha vida tão melhor que a delas? Será que o meu vizinho de grama mais verde olha pra mim e se pergunta por que ele reclama da vida dele também? Será que ele também não tem do que reclamar?

Às vezes a vida te faz parar e conversar ou trás para dentro do seu trabalho uma dessas pessoas de vida simples. Dessas que parecem tão felizes com tão pouco.
Dessas que te contam que no último deslizamento de terra que você só assistiu da segurança da sua sala, no conforto do seu sofá, pela imagem bonita da sua tv por assinatura, perderam tudo...
Dessas que te falam com os olhos cheios d'água que não podem vir na semana que vem falar com você por que estarão na cidade onde tudo o que tinham foi levado pela água pra reconhecer pedaços das pessoas que amavam, que a água também levou.
Pessoas destas que sorriem um sorriso sincero quando vêem a menor chance de encontrar de novo um lugar pra chamar de seu. Dessas que saem com seus filhos pequenos no colo e os filhos das irmãs que perderam pra chuva pelos braços, um de mãozinha dada com o outro, sorrindo, por que você lhes disse que existe um programa governamental com o qual essas pessoas podem passar TRINTA ANOS pagando por uma casa pra chamar de sua.

E você para novamente pra pensar e agradece baixinho que sua mãe chata, seu pai insuportável, seus irmãos infernais... Que eles estejam vivos, bem. Ali por tempo bastante pra infernizar a sua vida, se fazendo presentes e lembrando você do quanto você é abençoado por que tem uma família.
Você sente vontade de abraçar os seus pais e chorar. De agradecer por que você não tem de ir a outra cidade encontrar os restos perdidos deles para dar-lhes enterro digno. Não. Você pode simplesmente voltar pra casa para o almoço e ver sua mãe lá cozinhando a abobrinha que você detesta comer. Ou pedir ao seu pai que te compre um miojo enquanto você trabalha...
Você sente vontade de pegar os seus sapatos favoritos e dá-los à sua irmã que tanto te torra o saco pra usá-los emprestados. Sente vontade de pegar os seus fones de ouvido e perguntar se seu irmão mais novo não os quer emprestados hoje.
Sente vontade de abraçá-los e dizer-lhes que por favor puxem seus cabelos, acordem-no mais cedo, gritem no quintal...

Você sente vontade de agradecer por tudo o que tem.

Eu sei que cedo ou tarde eu, você, todas as pessoas que estão lendo isso... Nós vamos voltar aos nossos "todos os dias", reclamando das nossas casas pequenas, das nossas famílias irritantes, dos nossos problemas e do gosto da nossa comida...

Mas ao menos no dia de hoje, ao menos uma vez, eu quero agradecer por que a minha vida é plena. E por mais que eu tenha motivos pra reclamar aos montes, eu também tenho motivos pra agradecer por horas...

Deus, deuses, grande mãe, grande pai, energia maior... Não importa a quem...

Eu só quero dizer obrigado.

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